Fermatinha (notas em diferentes cordas), usada pra arrumar o rítimo quando se tem duas notas em cordas diferentes que não podem ser tocadas simultaneamente pela palheta, mas que a música pede essa sensação harmônica de intervalo entre notas. Essa composição foi toda feita de uma vez, como um improviso de solfejo. Poucas sugestões de interpretação (acentos, fraseados, ornamentos, etc), justamente para se ter a sensação dos três elementos (rítimo, melodia e harmonia) da música com apenas a melodia tocada pura, a melodia como poesia.

Mordentes usados como ornamento, mas também como fôlego musical, uma respiração para uma retomada. Troca de compasso: colcheia continua a valer o mesmo tempo, mas muda a acentuação. A nota mais aguda da série é alcançada neste capricho (B5). Tom pouco usual no bandolim, Bm.

Escrito em 3/8 para o andamento ser realmente desafiador para o solista. Um belo exercício para se chegar perto da boca do bandolim com a melodia, tendo em vista a dificuldade de tocar em um espaço apertado (trastes da parte aguda) e a beleza do som super agudo. Aos amigos da Venezuela. Tom pouco usual no bandolim, Cm.

Valsa choro com pegada virtuosística do bandolinista Luperce Miranda, também com influência de J. S. Bach. A tessitura do instrumento é explorada ao limite de 4 oitavas. Trechos importantes com saltos de corda que exigem velocidade, principalmente na mão direita.

Essa valsa tem ares franceses, exige uma atenção do começo ao fim, o caminho melódico é, apesar de próximo às valsas francesas, bem incomum, com modulações que geram tensão/resolução a todo momento. Saltos melódicos incomuns. O tom de mi menor, apesar de uma armadura de clave com apenas um sustenido, não é quase visto em composições para bandolim.

Uma composição de melodias diatônicas, arpejos e rítmos quebrados, com uma constante troca de compassos, mas em um tom bem comum, o sol maior.  Muita exigência da mão direita pela quantidade de arpejos na segunda parte e também da mão esquerda pela precisão que as notas devem ser apertadas pelos dedos em cada corda e em cada acorde. Quanto mais ligadas as notas, mais bonito fica. Importante que a cada acorde, as notas graves sejam tocadas soando até a próxima nota grave da sequência de acordes-arpejos-melódicos na segunda parte. Atenção na estrutura: AABBAB Acoda. Homenagem ao compositor Egberto Gismonti.

Tom completamente incomum para o bandolim: Mib. É a exploração de sonoridades e timbres pouco comuns e muito bonitos. Modulações inesperadas e melodia composta na linguagem do choro, a partir do fraseado típico do gênero, mas também buscando caminhos e saltos melódicos pouco explorados. Como uma melodia espiral.

Tom incomum para o bandolim: E. exploração das cordas soltas, sonoridade bonita, bem característica do uso do bandolim no choro. Exploração de posições mais próximas à boca do instrumento modulações inesperadas, melodia espiral. Acentuações na melodia que levam para um tempo harmônico específico.

Composição escrita a partir da sonoridade modal do acorde de C lídio junto com o ambiente harmônico de Em. Uso da fermatinha. Uso da tessitura do bandolim em mais de 3 oitavas (C2-F#5). Exploração de sonoridade bruta e suave, com acorde cheios tocados como blocos, buscando o equilíbrio entre as cordas agudas e as graves.

Criado inicialmente como um estudo de trêmulo com duas vozes no bandolim. ganhou uma outra melodia contraponto para a gaita. Escrito com uma sugestão de digitação. É importante os acordes soarem como acordes, não só como notas tremoladas isoladas. Homenagem ao céu de Brasília.

Busca pela sonoridade modal (harmonia) muito característica da música feita no nordeste do Brasil. Dificuldade da simplicidade técnica e da melodia, como um lamento. Uso da fermatinha. Uso da sonoridade de corda solta.

Compasso ímpar, em cinco tempos. isso dá uma sensação rítmica muito interessante. ajuda a desenvolver um senso de andamento e rítimo muito preciso e com balanço. A tonalidade é Cm, que cai muito bem no bandolim 10 cordas, já que a corda mais grave é um dó. A única escala usada nesse capricho é a de Dó menor harmônica, sendo respeitado também o campo harmônico deste modo menor. Homenagem à Música flamenca. 

Harmonia tonal, explorando o uso de arpejos. Temática melódica baseada no baião, no maxixe e no samba de roda, com profunda exploração da tessitura em um tom considerado simples. Estudo de palhetada: o uso de intervalos maiores que uma oitava dá a sensação de dois instrumentos e exige na mudança de cordas durante a primeira parte praticamente inteira. Essa é uma verdadeira maratona, cada nota com sua função, mas são muitas. Homenagem à padroeira dos músicos.

Esse tema é para uma caixinha de música, deve soar assim. quanto mais suave se tocar, melhor. O tom de Eb é pouco usado no bandolim. a ideia é tocar e parecer comum. A harmonia é inspirada no impressionismo musical francês, com modulações inesperadas. Uso da fermatinha. O desafio é tocar 'legato' em um tom com quase todas as notas presas, chegando em modulações com cordas soltas e mantendo a sonoridade 'legato' em toda a música.

Composta com a escala de Dm harmônica, sobre o modo do V grau (lá). todas as notas da melodia são dessa escala, o campo harmônico também. É um choro, meio corta-jaca, meio africano.O fraseado mistura arpejos com escalas diatônicas, típico do choro. Muitos saltos melódicos proporcionam muitos saltos com a palheta, é um bom exercício de mão direita. Homenagem ao violonista Raphael Rabello.

Com esse capricho, é possível explorar a sonoridade completa e equilibrada do timbre do bandolim de 10. o uso constante da corda dó solta (ela é a dominante do tom em questão). as cordas mais agudas são usadas em frases de impacto na segunda parte e como 'ponta' de alguns acordes. as cordas médias (sol e ré) são o recheio da harmonia e também servem como melodia em momentos importantes. O rítimo é ternário, muito comum na música do sul do Brasil e da fronteira. O campo harmônico remete à música flamenca e aos tons de 'lamentação'. O tom de Fm é bem incomum para o bandolim.

Homenagem ao samba, onde Donga é considerado o compositor do primeiro samba. A melodia principal é bem 'popular'. o complemento, o que vem além da melodia, como contraponto e acompanhamento do próprio bandolim, sugeri divisões rítmicas que geram o conhecido 'balanço'. Muita troca de corda, usando o recurso de arpejar o acorde para se dar a sensação harmônica. É o típico tema para improvisar.

Mordente usado como melodia (escrito por extenso sem ligadura, a partir do compasso 37), palhetada muito rápida. Foi feito pensando nas crianças, na infância. guarda uma certa inocência, principalmente do ponto de vista harmônico. Exige uma precisão na mudança de cordas, na palhetada entre cordas, um pouco como o Capricho de Santa Cecília. Algumas boas ligaduras para a mão esquerda. Bastante fôlego pra tocar todas as notas do começo ao fim. Uso da mão direita para abafar o som perto do cavalete (abafadinho).

Composto a partir de impressões sobre a célula rítmica do bumba meu boi. Técnica de trêmulo 'dois bandolins', melodia e contraponto. Desafio de mostrar as duas vozes ao mesmo tempo independentes, porque cada uma tem vida própria, e interdependente, porque as duas fazem parte de uma mesma ideia musical, do mesmo caminho harmônico.

Esse capricho é um exemplo bem elaborado de música feita pra ser tocada por apenas um instrumento solista. existe uma conversa entre a melodia principal e as secundárias, através de pergunta e resposta, acordes arpejados e melodias arpejadas, diatônicas e cromáticas. O rítmo acaba cumprindo o papel como consequência da combinação entre melodia e acompanhamento. Os três elementos da música, melodia, harmonia e rítmo aparecem de maneira destacada e independente. Mostra o quão pequeno é o bandolim e ao mesmo tempo a infinidade de possibilidades musicais ele pode executar. É uma homenagem ao povo indígena.

A cada tocada, esse capricho deve sair diferente. a escrita está só codificada com melodia e cifra. a ideia é que a cada vez, se busque um contraponto para cada parte da música e acordes que concordem com o caminho dado pela cifra. Importante que a melodia seja destacada do acompanhamento na intenção - vibrato pode ajudar - e na dinâmica.

Escrita a partir da célula rítmica do Maracatu. O tom de Eb ajuda na busca de uma sonoridade especial, visto que a tonalidade não é comum ao bandolim. Melodia que se repete ritmicamente, com partes que alternam a melodia no baixo. Motivo melódico que se repete constantemente, como uma melodia mântrica e que guarda uma certa brejeirice brasileira. Ligaduras entre notas com um intervalo maior que uma oitava aparecem com o objetivo de se tocar as notas o mais ligado (legato) possível, visto que o bandolim é um instrumento com pouco sustain.

Esse foi o penúltimo a ser composto e como tal, ganhou ares de síntese técnica e musical. elementos como compasso ímpar, melodia com o senso harmônico explicado, andamento que exige da performance do músico. A harmonia, um tipo de modalismo-tonal, de new barroco, de uso de dominantes com a nona menor, e algumas modulações ou mudanças de senso harmônico usando o intervalo de terça menor entre os acordes. A escala de ré menor harmônica é a base. O rítimo é em cima dos 7 tempos deste compasso, com algumas mudanças de acentos na melodia que causam a sensação de alteração no compasso, mas mantém-se os 7/4. A melodia espiral, como chamei no começo desse trabalho: melodia com intervalos e rítimos que deixam o músico e o ouvinte sempre atento à próxima surpresa, tentando não perder a unidade do começo ao fim. Uso de mordente (de acordo com Dm harmônica), fermatinha, ligadura de frase, ligadura de intervalos grandes como mini-legato

Sol menor, o tom da saudade no bandolim, o preferido do compositor. É o único escrito pra dois bandolins de 10 cordas. pra finalizar a série de caprichos e reverenciar o violinista e compositor Nicolo Paganini. É escrito em 6 partes, que sobrepostas se transformam em três: 3/4, que remete à valsa e suas derivadas africanas, europeias e latinas, 2/4, que remete ao choro e samba,  e novamente 2/4, levando a linguagem para o período barroco, como referência às partitas e sonatas para violino solo de J. S. Bach. Uso da fermatinha.